Valdir Marceli: a superação do preconceito e do câncer

Durante uma roda de conversa com o Dr. Rodrigo Rodrigues da Silva, médico do trabalho da HM Engenharia, nossos profissionais puderam se conscientizar mais sobre o câncer de próstata. O objetivo foi reforçar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce, além de desconstruir velhos preconceitos sobre os exames de detecção.

Todas as informações trabalhadas durante o bate papo foram importantes para os presentes. Houve, no entanto, um momento muito especial em que um de nossos profissionais decidiu compartilhar sua história.

Há quatro anos, Valdir Marceli, motorista da HM Engenharia, foi diagnosticado com a doença. Poucos na empresa sabiam sobre sua trajetória na luta contra o câncer de próstata. Hoje, após ter feito todos os tratamentos necessários, Valdir está bem e feliz da vida ao lado da sua família.

Sua história inspira quem busca por mais informações e conhecimento sobre a doença. Por isso, quando pedimos para que ele nos desse uma entrevista para falar sobre sua experiência, Valdir topou de prontidão! Confira:

Como você descobriu que estava com câncer de próstata? Com que idade estava?

Descobri com os exames preventivos, que eu fazia desde os 50 anos de idade. Hoje estou com 62 anos. Quando completei 59 anos, eu voltei e, um dia, o médico pediu para eu fazer o exame de toque. Perguntou se eu aceitava fazer e eu disse que sim, até porque tem casos de câncer na minha família. Ele fez o exame, mas não conseguiu diagnosticar nada. Solicitou o exame de sangue e o meu PSA deu um tanto alterado. Ele não gostou e pediu que, em 60 dias, eu fizesse um novo exame para ver como que estava, se tinha abaixado o PSA ou se iria alterar. Eu fiz novamente e estava mais alterado ainda. Aí, ele me chamou novamente e falou “Valdir, eu não estou gostando dos seus exames. Fiz exame de toque e não senti nada. Fiz o exame de PSA e está dando alterado. Então, a gente vai partir para uma biópsia. Você tem algum preconceito quanto a isso?” Eu disse que não. Fui e fiz a biópsia. Foi quando constou que eu estava com três pontos mínimos na próstata. Eram sinaizinhos menores que um grão de arroz. Ele solicitou que eu procurasse um cirurgião. Graças a Deus a cirurgia foi feita e estou muito bem hoje.[1]

Como foi, para você, lidar com o diagnóstico? Na época, o que você sabia sobre a doença?

Foi difícil. Quando recebi o diagnóstico do doutor, eu estava sozinho. Então, guardei o exame e não quis revelar pra minha família. Principalmente para o meu filho e minha filha. Não queria que eles ficassem nervosos. Primeiro eu tentei resolver tudo sozinho pra depois dar a notícia. É uma fase difícil na vida da gente, porque você está trabalhando e também está com esse negócio na cabeça, de que precisa fazer uma cirurgia. Ao mesmo tempo você quer se segurar pra não deixar as pessoas que estão do seu lado sofrerem também. Mas, por ocasião do destino, minha mulher acabou mexendo nas minhas coisas e achou o exame, chamou meu filho e contou para ele. Falou a verdade do que estava acontecendo. Ele se apavorou, minha filha também. Quando isso aconteceu eu já estava com todos os exames para a cirurgia prontos, faltando apenas um. Corri atrás de tudo e dei entrada pra fazer a cirurgia no mês de fevereiro de 2016.

Você acha que ainda existe preconceito em torno desse tema? Como mudar isso?

Sim. Existe muito preconceito. E é isso que acaba matando a gente, porque se as mulheres se submetem a todos os tipos de exames que os médicos pedem, por que é que nós, homens, também não nos submetemos a isso? O preconceito ainda é o grande vilão na vida do homem. Um pequeno exame que a gente faz pode salvar as nossas vidas. As pessoas também não fazem a cirurgia por medo de ficar impotentes. Gente, o sexo não é tudo na nossa vida. Hoje existem vários tipos de cirurgia com tecnologia avançada. No meu caso, foram só três furinhos que foram feitos em volta do umbigo. E eu não perdi minha potência. Ao contrário, hoje eu estou bem, estou feliz e com a minha família. Tenho minha neta que é a razão da minha vida.

Se pudesse dar um conselho para os homens qual seria?

A vivência que eu tive do câncer me deu uma grande aprendizagem. Queria dizer a todos que a vida é maravilhosa, é bela, é gostosa, linda de ser vivida, mas só a partir do momento que você deixa de ter preconceito. Quando você tem um problema, tem que correr atrás. Vá atrás do seu diagnóstico, da cirurgia, faz o que tem que fazer, mas corra atrás do seu objetivo, da sua cura. O médico está ali para nos ajudar. Se não for o diagnóstico dele, nós podemos não viver mais. Queria pedir desculpas se em algum momento eu acabei me engasgando, porque é difícil falar de uma situação dessa, seja do meu caso, que já fui curado, ou de quem ainda tem a doença. Só quem passou ou passa por isso sabe como é difícil de falar. Então, por favor, façam seus exames, corram atrás e vivam a vida em paz para poder ter a felicidade que eu tenho hoje, de olhar para a minha neta e ouvir ela falar “vovô, eu te amo”. Essa é a coisa mais gostosa que tem no mundo. Se não fosse o médico que tivesse diagnosticado esse meu problema, hoje eu não estaria vendo a minha neta ser tão feliz e eu tão feliz ao lado dela.

 

[1] Valdir não precisou fazer quimioterapia ou radioterapia. No entanto, há casos de câncer de próstata em que tais tratamentos se fazem necessárias.

Simone Vieira, uma história de superação

Receber o diagnóstico de câncer de mama aos 28 anos foi um choque para Simone Vieira Neto, coordenadora comercial da HM Engenharia. O que era para ser um exame de rotina acabou levando a profissional a rever prioridades e ressignificar a vida, a traçar novos objetivos e saber o quanto é amada pelos amigos, colegas de trabalho e familiares! Seis anos depois do choque inicial, ela fala sobre a importância de campanhas como o Outubro Rosa, que alertam as mulheres sobre o autoexame das mamas e os cuidados com a saúde, sobre superação e a importância das amizades em seu processo de recuperação. Confira a entrevista:

Como você descobriu a doença?

Foi durante um exame de rotina, em 2013. Ao fazer um ultrassom de mamas, a médica começou a fazer perguntas e me encaminhou para uma mamografia. Na segunda-feira pela manhã, minha ginecologista me chamou para o retorno, mas eu não estava entendendo por que tanta pressa. Foi quando ela me disse havia uma suspeita de câncer. Fui encaminhada para um oncologista e ele me disse que havia um nódulo e que iria pedir exames para ter certeza sobre o diagnóstico. Mas a ficha não caiu. Saí de lá normalmente e foi só quando entrei no carro que comecei a chorar. Mas não queria levar preocupação para a minha família.

Como foram os dias seguintes?

Fiz a biópsia e o resultado foi confirmado. Meu médico me tranquilizou dizendo que existia tratamento, que é possível ter vida normal depois dele, e que cada caso é um caso. Me orientou a não ficar olhando na internet e me disse uma frase que não esqueço: “Você está doente e vamos superar isso; 50% é sua cabeça, os outros 50% é o tratamento”. A partir daquele dia nunca mais pesquisei nada na internet e decidi me cuidar.

Você precisou retirar a mama. A cirurgia aconteceu quanto tempo depois do diagnóstico?

Pouco mais de um mês depois daquele ultrassom, no dia 30/11/2013, eu entrava na sala de cirurgia. Até então não sabia o que iria acontecer. Fiz todos os exames pré-operatórios e, na ressonância, o médico viu outro nódulo. Diante desse novo quadro, a opção foi retirar a mama inteira e fazer a reconstrução, em vez de retirar apenas um quadrante, como previsto incialmente. Pensei: “Vou ficar sem peito?” A preocupação era que eu era muito jovem e ele temia pelo meu estado psicológico. Assim, ele me indicou um cirurgião plástico e tive apoio de grandes amigos na HM, que me ajudaram a arcar com os custos da cirurgia. Quando as relações vão além do profissional, não tem preço que pague.

Correu tudo bem na cirurgia?

O procedimento demorou mais de seis horas. Retirei a mama inteira e a reconstrução foi feita no mesmo dia. Na cirurgia correu tudo bem, mas no dia seguinte, quando o médico retirou o curativo, vi meu peito e achei horrível. Fiquei desesperada, mas não contei para ninguém. Eu era casada na época e meu pensamento era apenas saber como meu marido iria reagir, mas ele acabou conduzindo tudo muito bem e me senti segura.

E como foi o tratamento pós-cirúrgico?

Foi feita a biópsia, e com isso meu tratamento foi definido. Não precisei fazer rádio, fiquei super aliviada, mas teria de fazer 18 sessões de quimioterapia. Seis sessões de uma químio mais forte e 12 de uma mais branda. Fiquei com medo de o cabelo cair, pois na época tinha os cabelos muito compridos. Para evitar surpresas, cortei no ombro, já preparando meu estado de espírito. Como era fim de ano, a médica falou para eu aproveitar esse período antes do tratamento. Fiz tudo o que queria fazer!

Em janeiro, comecei a fazer quimioterapia. Minha médica me chamou para conversar e ela me disse que eu teria algumas restrições. Disse que minha imunidade ficaria baixa e que eu não poderia arriscar a ficar próxima de muita gente, crianças, animais… Não poderia tomar sol, nem comer carne crua, fruta com casca… Fiquei desesperada. Fiquei mais desesperada com essas restrições do que quando soube que estava com câncer. Eu sou uma pessoa viva, gosto de gente, gosto de conversar, gosto de abraçar, ficar perto, receber as pessoas na minha casa. Sempre gostei muito disso, e pensei o que seria da minha vida.

E como você lidou com as restrições?

Eu havia comprado um monte de remédios para amenizar as restrições. Para combater vômitos etc. Eu fiz todo o tratamento e nunca vomitei, nunca passei mal, nunca tomei um daqueles remédios que eu comprei. Deus foi muito bom comigo. E, mais do que isso, continuei tendo minhas amigas próximas de mim. Todas aquelas restrições que eu achei que iria ter eu não tive.

Quanto tempo durou o tratamento?

Seis meses até finalizar a quimioterapia, mais cinco anos com tamoxifeno (outro tipo de medicamento) e mais cinco anos o Aromasin. Após a químio, a médica não queria que eu voltasse de imediato, pois ela tinha medo de como seria a minha reação. Eu estava careca e havia toda uma preocupação com meu estado psicológico, e minha médica me deu mais seis meses de afastamento. Mas eu queria voltar, e não entreguei a carta no INSS.

Como foi o retorno ao trabalho?

Eu sou uma pessoa muito bem resolvida. Engordei 10 quilos em seis meses, estava careca. Mas quando caiu o primeiro tufo de cabelo já raspei tudo e compartilhei todo esse processo com as pessoas. Meus colegas de trabalho iam me visitar, me mandavam mensagem, muitas pessoas acompanharam a evolução do tratamento. O tempo todo eu estava em contato com as pessoas, e no meu primeiro dia de trabalho fui recebida como uma vitoriosa. Todos vieram me abraçar, não com olhar de pena, mas de admiração. Isso fez toda a diferença.

 

 

Com a alta, as coisas voltaram ao lugar?

Tudo voltou ao normal. A única coisa que mudou foi tomar medicação e fazer acompanhamento mensal. Com o tempo, as visitas ao médico passaram a ser trimestrais e agora o retorno é feito a cada seis meses. Independentemente do acompanhamento de rotina, tenho uma vida 100% normal. À medida que o tempo foi passando as coisas foram entrando no lugar. Inclusive fiz um procedimento para reconstruir a marca da aureola com micropigmentação, que não é contemplada na cirurgia plástica, e já havia realizado um procedimento estético na outra mama, para deixá-las mais simétricas.

O câncer de mama mexe com a autoestima da mulher. Como você encarou tudo isso e como você lida com essa questão hoje?

Como eu disse, quando vi a mama pela primeira vez fiquei desesperada, mas hoje não faz diferença para mim. Hoje estou separada e é claro fico pensando como será em um novo relacionamento. Gera sim um pouco de insegurança, mas procuro tratar essa questão de forma natural.  Sempre fui muito segura.

Mas, desde que fiz o tratamento, engordei 40 quilos, e minha disposição ficou prejudicada. Fico com receio, por causa da mama, mas não consigo emagrecer (risos). Na HM temos um projeto chamado guardiões HM e um de meus colegas de trabalho, o Thierry, cuida de mim.  Ele pergunta se eu me alimentei direito, se estou fazendo as coisas certinhas… Quem sabe agora eu consigo emagrecer.

Fora isso, eu tenho uma vida normal. Quando falo para as pessoas que tive câncer, ninguém acredita. Ninguém nem imagina que passei por isso.

O que o câncer trouxe de aprendizado para você?

Dar valor à vida, fazer tudo o que a gente tem vontade. Quando fiquei doente, eu pensava: “Se eu morrer, fiz tudo o que tinha vontade de fazer, vivi tudo o que eu queria viver?” E aí eu me perguntava, por que não fiz mais. Sempre fui uma pessoa rodeada de gente, agora prezo mais as relações com os amigos e a família. Procuro viver o hoje como se fosse o último dia – a gente precisa fazer o que gosta. Seja sair com os amigos, beber uma cerveja, trabalhar, ter prazer nas pequenas coisas.

Sua relação com as pessoas mudou então?

Sempre tive muitas relações, mas acho que a qualidade dessas relações mudou. Nem falo em termos de quantidade, mas a qualidade.

Com 28 anos você fazia o autoexame das mamas?

Eu fazia, mas não sentia nada. Acho que eu não fazia direito. Depois, quando descobrimos a doença, comecei a fazer mais o autoexame para ver se não aparecia outra coisa e comecei a sentir o nódulo. Acho que nós, mulheres, quando vamos ao ginecologista deveríamos perguntar se estamos fazendo o autoexame corretamente.  Às vezes a gente até faz o autoexame, mas estamos fazendo direito?

Qual a importância de ações como o Outubro Rosa?

Muito importante! Às vezes a gente pensa que as coisas não acontecem, na rotina não paramos pra pensar na importância de certas coisas. Com o Outubro Rosa, o tema está na tevê, na farmácia, no shopping… As empresas também se engajam e com isso as mulheres se sensibilizam. Aqui na HM, eu compartilhei minha história com as colegas de trabalho e recebi muitos feedbacks de mulheres que se surpreenderam por eu ter tido câncer tão jovem. A gente nunca acha que vai acontecer com a gente, essa é a verdade.

Qual a importância da HM nesse desafio que você superou?

A HM me ajudou muito. Eu me senti amparada, não me senti sozinha. Eu nunca tinha ficado doente em minha vida. E quando tive o diagnóstico pensei que era eu contra o mundo, mas quando vi todos preocupados comigo, querendo saber mais sobre o tratamento, sobre como estavam sendo as sessões de quimioterapia, os elogios e a preocupação, eu me senti acolhida, fortalecida. Não era mais eu contra o mundo, era eu, minha família e meus amigos contra o mundo e isso foi muito importante no meu processo de recuperação.

O que você imagina para o futuro, como vê a Simone daqui dez anos?

Daqui dez anos? Eu quero estar vivíssima, vou me esforçar para emagrecer e ter mais saúde. Mas se a doença aparecer de novo vou estar mais preparada para enfrentar, pois vi que o tratamento é possível e que a gente precisa fazer os exames com regularidade. Faz muita diferença descobrir o câncer logo no início. Veja o meu caso, no meu primeiro ultrassom o nódulo estava com 2 centímetros e nos exames pré-operatórios, 20 dias depois, ele já estava com 2,2 cm. Então às vezes, na correria do dia a dia, a gente vai prorrogando as coisas, mas a saúde vem em primeiro lugar.

Que recado você deixa para as pessoas que estão passando pelo mesmo que você passou em 2013?

Meu recado é: não desista, tenha por perto pessoas boas, que te façam sentir querida e amada, valorize as relações, faça o tratamento direitinho, seguindo todas as recomendações dos médicos, e repito aquilo que meu médico me falou: “50% é o tratamento, os outros 50% são nossa cabeça e a nossa vontade de viver”, e eu amo a vida.