Valdir Marceli: a superação do preconceito e do câncer

Escrito 20/11/2020

Durante uma roda de conversa com o Dr. Rodrigo Rodrigues da Silva, médico do trabalho da HM Engenharia, nossos profissionais puderam se conscientizar mais sobre o câncer de próstata. O objetivo foi reforçar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce, além de desconstruir velhos preconceitos sobre os exames de detecção.

Todas as informações trabalhadas durante o bate papo foram importantes para os presentes. Houve, no entanto, um momento muito especial em que um de nossos profissionais decidiu compartilhar sua história.

Há quatro anos, Valdir Marceli, motorista da HM Engenharia, foi diagnosticado com a doença. Poucos na empresa sabiam sobre sua trajetória na luta contra o câncer de próstata. Hoje, após ter feito todos os tratamentos necessários, Valdir está bem e feliz da vida ao lado da sua família.

Sua história inspira quem busca por mais informações e conhecimento sobre a doença. Por isso, quando pedimos para que ele nos desse uma entrevista para falar sobre sua experiência, Valdir topou de prontidão! Confira:

Como você descobriu que estava com câncer de próstata? Com que idade estava?

Descobri com os exames preventivos, que eu fazia desde os 50 anos de idade. Hoje estou com 62 anos. Quando completei 59 anos, eu voltei e, um dia, o médico pediu para eu fazer o exame de toque. Perguntou se eu aceitava fazer e eu disse que sim, até porque tem casos de câncer na minha família. Ele fez o exame, mas não conseguiu diagnosticar nada. Solicitou o exame de sangue e o meu PSA deu um tanto alterado. Ele não gostou e pediu que, em 60 dias, eu fizesse um novo exame para ver como que estava, se tinha abaixado o PSA ou se iria alterar. Eu fiz novamente e estava mais alterado ainda. Aí, ele me chamou novamente e falou “Valdir, eu não estou gostando dos seus exames. Fiz exame de toque e não senti nada. Fiz o exame de PSA e está dando alterado. Então, a gente vai partir para uma biópsia. Você tem algum preconceito quanto a isso?” Eu disse que não. Fui e fiz a biópsia. Foi quando constou que eu estava com três pontos mínimos na próstata. Eram sinaizinhos menores que um grão de arroz. Ele solicitou que eu procurasse um cirurgião. Graças a Deus a cirurgia foi feita e estou muito bem hoje.[1]

Como foi, para você, lidar com o diagnóstico? Na época, o que você sabia sobre a doença?

Foi difícil. Quando recebi o diagnóstico do doutor, eu estava sozinho. Então, guardei o exame e não quis revelar pra minha família. Principalmente para o meu filho e minha filha. Não queria que eles ficassem nervosos. Primeiro eu tentei resolver tudo sozinho pra depois dar a notícia. É uma fase difícil na vida da gente, porque você está trabalhando e também está com esse negócio na cabeça, de que precisa fazer uma cirurgia. Ao mesmo tempo você quer se segurar pra não deixar as pessoas que estão do seu lado sofrerem também. Mas, por ocasião do destino, minha mulher acabou mexendo nas minhas coisas e achou o exame, chamou meu filho e contou para ele. Falou a verdade do que estava acontecendo. Ele se apavorou, minha filha também. Quando isso aconteceu eu já estava com todos os exames para a cirurgia prontos, faltando apenas um. Corri atrás de tudo e dei entrada pra fazer a cirurgia no mês de fevereiro de 2016.

Você acha que ainda existe preconceito em torno desse tema? Como mudar isso?

Sim. Existe muito preconceito. E é isso que acaba matando a gente, porque se as mulheres se submetem a todos os tipos de exames que os médicos pedem, por que é que nós, homens, também não nos submetemos a isso? O preconceito ainda é o grande vilão na vida do homem. Um pequeno exame que a gente faz pode salvar as nossas vidas. As pessoas também não fazem a cirurgia por medo de ficar impotentes. Gente, o sexo não é tudo na nossa vida. Hoje existem vários tipos de cirurgia com tecnologia avançada. No meu caso, foram só três furinhos que foram feitos em volta do umbigo. E eu não perdi minha potência. Ao contrário, hoje eu estou bem, estou feliz e com a minha família. Tenho minha neta que é a razão da minha vida.

Se pudesse dar um conselho para os homens qual seria?

A vivência que eu tive do câncer me deu uma grande aprendizagem. Queria dizer a todos que a vida é maravilhosa, é bela, é gostosa, linda de ser vivida, mas só a partir do momento que você deixa de ter preconceito. Quando você tem um problema, tem que correr atrás. Vá atrás do seu diagnóstico, da cirurgia, faz o que tem que fazer, mas corra atrás do seu objetivo, da sua cura. O médico está ali para nos ajudar. Se não for o diagnóstico dele, nós podemos não viver mais. Queria pedir desculpas se em algum momento eu acabei me engasgando, porque é difícil falar de uma situação dessa, seja do meu caso, que já fui curado, ou de quem ainda tem a doença. Só quem passou ou passa por isso sabe como é difícil de falar. Então, por favor, façam seus exames, corram atrás e vivam a vida em paz para poder ter a felicidade que eu tenho hoje, de olhar para a minha neta e ouvir ela falar “vovô, eu te amo”. Essa é a coisa mais gostosa que tem no mundo. Se não fosse o médico que tivesse diagnosticado esse meu problema, hoje eu não estaria vendo a minha neta ser tão feliz e eu tão feliz ao lado dela.

 

[1] Valdir não precisou fazer quimioterapia ou radioterapia. No entanto, há casos de câncer de próstata em que tais tratamentos se fazem necessárias.

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